Ditadura Fashion: Gabriel Bertoncel.

-Natural da capital paulista, Gabriel, 36, é um expoente fotógrafo com contribuições notáveis ao mercado.

Filho de artistas, e formado numa escola voltada para artes Gabriel sempre respirou arte, e afirma que o que o preparou de fato foram os anos de assistência para grandes profissionais.

Completando 15 anos de carreira, no portfólio dele contam editoriais para Absolut e Amuse mag, Manequin, Versatille bem como campanhas para Boca Rosa Beauty, Fanfyfr, Julio Okubo, Life by Vivara, Loccitane, MBoom e Payot.

Acompanhe abaixo entrevista exclusiva.

Gabriel Bertoncel por Ricardo Soares.

*Gabriel, como a fotografia chegou até você, especificamente a fotografia de moda?

Meu contato com a fotografia começou muito cedo. Sendo filho de pais artistas e tendo estudado em uma escola voltada para artes, sempre tive acesso a todos os tipos de arte dentro e fora de casa. Fiz aula de música em diversos instrumentos, pintura, marcenaria, costura, teatro e também fotografia. Não que eu ainda exerça todas essas atividades cotidianamente, mas me serviram de base para tudo que veio depois.

O contato com a fotografia profissional ocorreu na adolescência quando trabalhei como modelo, isso me colocou dentro dos estádios e poder acompanhar de perto me instigou a querer aprender e fazer também. Com 21 anos, após um tempo de transição em ambos os lados da câmera abandonei a curta carreira como modelo e resolvi me dedicar 100% à fotografia.

*Antes de atuar no mercado, tu fotografou em outro seguimento? Se sim, conseguiria nos pontuar as diferenças entre sua atividade no passado e a atual?

Atendendo os mercados de moda e publicidade desde o início acabei, por diversas vezes fotografando produtos, principalmente fogões, geladeiras, micro-ondas para marcas como Brastemp e Consul. Diferente da moda o produto não se cansa, reflete, tem partes brilhantes e partes foscas. É de suma importância que todos estes detalhes apareçam na imagem independente do tempo necessário para que toda esta produção aconteça.

Ser fotógrafo de moda é o trabalho solo mais coletivo que existe. Para alcançar um grande resultado é preciso contar com boas modelos, maquiadores, stylists, camareiras, produtores além é claro, como fotógrafo, estar consciente do que preciso entregar sobre estudos pré estabelecidos referentes a cada trabalho. A qualidade e o nível de interação entre os profissionais é essencial para alcançar um resultado primoroso. Se uma das peças não estiver de acordo dificilmente a engrenagem irá fluir bem. Todos agregam.

*Criar imagens de moda pode ser bem desafiador, o que tu considera de suma importância na hora do set? Digo, pose, look, locação... para obter o resultado final?

Quando se tem boas modelos e uma boa comunicação quanto ao mood do trabalho, a parte de direção de poses fica bem mais focada em detalhes, altura do queixo, mãos delicadas, o desenho do corpo... a interação vai acontecendo de forma leve e natural até alcançar o resultado desejado. Por isso, como citei na resposta anterior, acho fundamental ter bons profissionais ao lado. Ter boa interação com o time para que todos se comuniquem e remem em conjunto para um objetivo pré estabelecido.

*Como você se prepara para atender campanha, editorial e demais ensaios? Existe uma conversa prévia com cliente? Eles fazem parte da criação da imagem?

O primeiro preparo sempre será a bagagem que carrego no decorrer destes quase 15 anos de carreira somados ao tempo de assistência, somados aos anos de estudos sobre história da arte... Quanto mais trabalho, mais aprendo e mais preparado para o próximo trabalho eu fico. Além desta bagagem é fundamental entender a necessidade de cada cliente e buscar referências que se aproximem daquilo que o trabalho exige. Esse trabalho de estudo é feito nos mais variados locais. Nos meus trabalhos antigos, no trabalho de outros fotógrafos, em filmes, pinturas e até a música pode inspirar e transmitir novas ideias. Mas para que isso ocorra da melhor forma é super importante que haja sim um bom alinhamento prévio por parte do cliente.

Sobre a última pergunta acho inclusive importante que eles façam parte da criação da imagem. Eles sabem melhor do que ninguém o que é de suma importância mostrar. Não que eles montem a cena, mas os detalhes que precisam ser mostrados vão influenciar diretamente no resultado final. Jamais poderei pedir para uma modelo sentar no chão se o diferencial de um produto for o bolso de traz de uma calça. Então, por mais que eles não criem diretamente a imagem são parte do processo de criação também.

*Falando sobre seus trabalhos, consegue nos contar alguma história de algum que lhe tenha marcado por algum motivo?

Tive diversos momentos especiais na carreira, mas tenho um carinho especial por algumas primeiras vezes. Entre estas a primeira campanha para uma grande marca, no caso a Opera Rock que ainda vivia seu auge. Outro trabalho marcante foi a primeira capa de revista de grande circulação, a manequim edição 724.

*Quais as maiores dificuldades no ramos de fotografia de moda hoje ao seu ver?

Com a chegada da fotografia digital ao mercado e a era das mídias digitais as demandas tem se tornado extremamente dinâmicas e as quantidades de fotos por diária crescido. A primeira dificuldade não é produzir essa demanda mas encontrar tempo para dormir tendo que entregar tudo isso. Mas mais importante que isso é conseguir mudar minha própria chavinha interna e entender que um cliente que quer 25 fotos ao dia não busca o mesmo nível de detalhes de um cliente que quer 8 fotos em uma diária até pq a mídia será dinâmica, muitas vezes um único post, e neste mercado digital o volume é fundamental.

*Como você lida com essas adversidades?

Tento entender a demanda de cada cliente e dividir o tempo que tenho para entregar tudo da melhor forma possível sempre, mesmo que precise de uma equipe maior para ajudar e ser mais dinâmico nas trocas de cena.

*O que compõe uma bela foto?

Principalmente uma bela luz. Como a própria origem do nome diz, (foto grafia) significa escrita da luz. Com uma boa luz outros fatores importantes na imagem são valorizados como linhas, contraste mesmo a modelo, os looks e etc...

*Se pudesse descrever a sua estética pessoal na fotografia, como seria?

Me considero um fotógrafo purista. Tento sempre alcançar o resultado final ainda no momento do clique e deixar o mínimo possível para o sistema e retoque. Tenho um trabalho leve, limpo e sensível mas não me incomodo em abrir mão dessa estética para me adaptar à diferentes necessidades de cada cliente.

*Como costuma ser sua equipe em um set? Pessoas, funções e tudo mais?

Isso varia muito em cada trabalho mas em uma grande campanha externa as equipes são enormes. Modelos, assistentes de fotografia, produtores de locação, produtor executivo, produtor de objetos + equipe, equipe de cenografia, maquiador +assistentes, cabelereiro + assistentes, stylist + assistentes, camareiras, clientes, diretor criativo, equipe de catering, as vezes até ambulância com equipe médica à disposição. Nestes casos passam de 30 pessoas envolvidas diretamente no processo e algumas outras dezenas envolvidas indiretamente. É fundamental que todos exerçam sempre o seu melhor se comunicando sempre para alcançar o resultado.

*Sei que tu tem uma parceria legal com a revista Manequim, como é seu trabalho com eles?

Em um mercado cada vez mais digital é cada vez mais raro trabalhos impressos então pra mim é uma honra e tenho muito orgulho de cada revista que faço.

Tudo começou há alguns anos atrás quando a Maria Helena da Fonte então diretora executiva da revista Corpo a Corpo assumiu o projeto da Manequim e me convidou para participar. O conhecimento prévio do time ainda na corpo fez tudo fluir mais facilmente tendo apenas a dificuldade de adaptar aos novos conceitos e público alvo da revista.

O crescimento dentro da revista foi progressivo tanto na quantidade de páginas, quanto no nível de interação com todos. Em especial a Mari, o editor de moda Cristian Heverson e o Robson Batista tratador de imagem que conheci lá mas que cuida de quase todos meus trabalhos atualmente. Estar com eles de duas a três vezes ao mês fez nosso contato ser muito intenso no decorrer dos últimos anos, trazendo um carinho familiar por todos e consequentemente pela revista.

Esse mês ( janeiro de 2022) tenho orgulho de anunciar que pela primeira vez em minha carreira terei uma edição inteira, somente com fotos minhas. Fiz parte de todos os ensaios produzidos, de cada editorial à capa. Isso me trás ainda mais carinho, vontade e dedicação para com a revista.

*E quais as responsabilidades e desafios de entregar fotos para a revista?

Para as revistas precisamos sempre nos manter atualizados com as tendências que virão nos próximos meses, tanto no quesito moda quanto fotografia, make e etc... o volume e os prazos também acabam sendo um desafio a parte pois muitas vezes precisamos adaptar um moodboard devido não haver uma janela climática boa em determinada locação em um certo período.

*Um trabalho dos sonhos?

Acredito que o crescimento só depende de mim, da minha ambição e minha dedicação. Por mais demorado que seja, se houver comprometimento, dedicação e boas entregas o crescimento acontecerá de forma natural e consistente. Por ser uma carreira longeva e considerando tudo que já alcancei nestes anos coloco como meta sempre aquele trabalho mais distante da minha realidade atual para que cada passo possa ser dado, um após o outro em uma única direção. Hoje como meta quero uma capa de revista importante europeia, adoraria uma capa de Vogue Itália por exemplo.

'-Apesar de possuir campanhas internacionais para marcas como Adidas, considero que o destaque e crescimento vieram nos últimos anos através de mídias menores, como exemplo uma ação e publicação no canal oficial da Dior com a atriz Lucy Ramos. Não poderia deixar de citar trabalhos com a Burberry, Tiffany e a mesma Dior dentro da revista Versatille e claro os mercados de joias e beleza que é hoje são meus principais ramos de atuação.' -Gabriel.

O insta dele é: @gabriel_bertoncel

Abaixo algumas fotos de autoria de nosso entrevistado.