Hoje ele também atua como diretor de casting, espaço que tem ocupado nos últimos 3 snos, já tendo realizado castings para Casa de Criadores, SPFW e desfiles particulares para nomes com Isa Isaac Silva, Meninos Rei e Mônica Anjos.
Abaixo entrevista com o jovem.
*Carlos, hoje tu vem se tornando uma potência na moda, especialmente no estado da Bahia, como e quando se deu essa sua entrada no mercado?
Minha entrada no mercado foi através de um produtor de moda que se chama Sivaldo Tavares, ele me encontrou num ônibus e me fez o convite pra ser modelo.
Atualmente nós temos um índice muito representativo de pretos na moda, e na época não tinha, há 9 anos quando eu cheguei.
Eu posso falarr que eu sou um dos pioneiros nessa chegada dos modelos baianos em SP, antes disso tinha Augusto Rocha e Ramires, que eram duas pessoas que eram muito citadas lá, e que me incentivaram na minha chegada até aqui.
E eu cheguei em SP num período de muita dificuldade, de poder sentir a representatividade dos meus nesse lugar, e daí eu consegui alcançar o sucesso e hoje eu levo projetos sociais pra dentro do meu estado, pra dentro da minha cidade.
Sei muito da minha importância do meu trabalho para que outros pudessem estar aqui e pudessem dar continuidade a esse legado.
*Ser modelo era a carreira que tu sempre quis trilhar?
Não, nunca foi uma carreira que eu sonhei trilhar, eu sou contador, sou formado em em técnico de radiologia, a moda nunca foi um sonho próximo, principalmente pra gente negro por conta de esteriótipos que eram pregados diante da sociedade, hoje a gente paz parte de um cenário totalmente desenvolvido mas que falta muito para nós sentirmos representados.
Eu fiz parte de um coletivo que se chama VAMO que conseguiu cotas de 40% de modelos negros dentro do SPFW, eu fui uma dessas pessoas, fui embaixador do projeto e fico muito feliz em poder fazer parte desse movimento de tanto crescimento dos modelos negros dentro da moda.
*Quais foram as dificuldades deste mercado que lhe moldaram até esse momento atual?
Eu acho que uma das maiores dificuldades que a gente encontra é de nos manter, sabemos que a moda é algo que passa com muita rapidez, e se você não sabe aproveitar dos momentos pra você fazer coisas grandiosas pelas pessoas e pelo que você acredita você termina ficando pra trás, eu me reinventei em diversos sentidos e aspectos, e sinto que minha carreira teve um tempo prolongado, eu acredito que é muito por esse propósito que eu carrego de trazer uma juventude pra esse cenário e se muitas vezes até ser ponte para que as pessoas consigam chegar até seus sonhos alcançar seus objetivos.
*Você se vê no Carlos lá de trás, antes da moda? O que esse mercado pode ter lhe acrescentado como cidadão?
Eu acho que o que o mercado me moldou e me trouxe foi essa questão do social, de trabalhar por amor, eu percebia que muitas das faltas de oportunidades que tínhamos num período antigo, era pela falta de representatividade de pessoas que fizessem direção, que pensassem, e que contratassem pessoas negras, por isso que nós meus castings eu consigo ter uma sensibilidade maior com as pessoas pretas e saber que realmente nos faltam oportunidades, porque talento nós temos se sobra.
*Hoje sei que tu desenvolve outras atividades além de modelo, poderia nos dizer quais são essas atividades e o que lhe motivou a desenvolve-las?
Na maioria dos castings que eu dirijo eu não sou só um diretor de casting, eu sou diretor de casting e diretor geral, porque dentro do meu trabalho eu escolho a maquiagem do desfile, eu idealizo junto com o estilista muitas das vezes o que vamos apresentar na passarela e trago ideias, então isso é um diferencial muito grande, e cada desfile meu traz uma sensibilidade muito grande com a nossa causa negra, que para além de tudo, na minha cabeça, não estávamos ocupando espaços por falta de talento, e sim por falta de oportunidades, hoje a maioria dos meus castings são com 70% /80% dos modelos pretos e contando com a questão da inclusão, porque eu fui um dos primeiros senão o primeiro diretor de casting a colocar um cadeirante na passarela dentro do SPFW, dirigindo a Meninos Rei, e isso foi muito importante né, porque a gente não luta só pela causa do negro e sim pela falta de oportunidades para aqueles que acreditamos.
*Na produção de casting, o que tu busca trazer, quais são suas premissas para formar um casting?
Quando a gente fala de casting, é muito sobre resultado, o modelo ele tem muita busca de trabalhos, mas eu deixo sempre muito esclarecido prós modelos que quando a oportunidade vier, a gente tem que estar pronto, eu acho que o grande diferencial é a atitude, o modelo precisa realmente ter garra e determinação, e provar não só pra mim né que estou ali na direção do desfile, mas também pro cliente que ele merece estar naquele espaço, isso é uma luta de nós, com nós mesmos, e eu posso dizer isso com propriedade pois eu ainda atuo como modelo, e toda vez que eu vou no trabalho eu vou pra buscar o trabalho, eu acho que é isso que o modelo precisa ter pra ter um diferencial e fazer com que o estilista consiga enxergar poder e potencial nele, pra ele ocupar aquele espaço.
*A valorização da mão de obra nas diversas atividades da cadeia é algo importante para você, pode contar em que momento essa chave virou para você?
Consequentemente, a valorização da mão de obra tem um cunho muito importante dentro do nosso negócio né, e principalmente falando da moda, eu acho que o Black Business ele tem que realmente girar, tipo, Black Money é um movimento que ele é crescente em todas as áreas que buscamos esse conhecimento, e na moda não é diferente, toda vez que eu vou contratar uma equipe de produção, uma equipe de maquiagem, uma equipe de moda, eu sempre preço por trazer o preto pra dentro desse sentido, pra que ele se sinta valorizado, uma das questões que eu bato muito é de tudo que a gente vai produzir, é sobre a valorização da mão de obra dessas pessoas, é algo que é muito difícil por conta da dificuldade que o cenário da moda atravessa hoje dentro do Brasil, com poucos investimentos, mesmo com muitos talentos.
*A moda étnica já virou uma característica sua.
Em que momento tu abraçou essa ancestralidade e o que isso significa para você?
A moda étnica vem comigo desde meu estudo, quando a gente vai estudar sobre a moda Ginkra que eram os tecidos pintados em pedras em África, então tem todo um contexto onde a gente sabe que as pessoas nasciam com uma roupa e morriam com essa roupa até os africanos inventarem esse modelo de moda que pouco é citado perante a sociedade, mas eu tenho um reflexo muito grande da marca Meninos Rei, que são meus amigos, meus irmãos, eles que fizeram um movimento gigantesco com a moda inclusive é algo que eles batalham há muito tempo, eu fui um dos primeiros modelos da marca, hoje dirijo os desfiles da marca, eles são meus amigos pessoais e eles tem uma referência muito grande dentro dessa questão étnica, dessa moda afro-brasileira que eu posso dizer com prioridade, porque as cores vibrantes eram algo que não eram utilizados dentro da nossa terra, em Salvador e eles revolucionaram esse cenário, e eu não posso deixar de dizer que foi um reflexo muito grande pra eu tá aqui hoje me sentindo represento com as estampas.
Então essa virada de chave foi muito importante porque eu consegui perceber o quão lindo era a nossa arte, o quão lindo era as nossas cores e o quão lindo era a nossa união dentro desse Brasil gigante que perpetua muito sobre África e caminha ali em paralelo.
*Vemos você envolvido em causas sociais, movimentos que valorizam essa moda ancestral.
O que tu espera para um futuro próximo em relação a esse movimento?
As causas sociais vivem dentro de mim desde que minha vó cedia comida para um vizinho que passava muita dificuldade, eu vi minha vó dividir o pouco que a gente tinha, e fazer isso virar muito, não só pra gente, quanto pras pessoas que estava perto, e hoje eu tenho um projeto que se chama Periferia do Futuro que foi idealizado por mim, esse projeto que tem um cunho educativo, e não só educativo, mas também cultural.
O Periferia do Futuro oferece cursos de trancistas, de maquiagem, de moda, de redação pras crianças se prepararem para o ENEM, as crianças de comunidade e nós ocupamos espaços muito grandes em Salvador diante do que acreditamos que é fazer o social junto com a educação, porque a educação transforma e o Periferia do Futuro com minha instrução e com a direção de arte da diretora tem feito muitas coisas mudarem e eu acredito que esse processo social tem amadurecido dentro de mim para que eu possa trazer mais oportunidades para os meus e colocar os meus em lugares que eu sempre sonhei.
*Qual a importância da cultura e costumes afro para a moda ao seu ver?
Eu costumo dizer que a arte tem um sentido muito grande, e a importância da cultura vem de quando você não se vê dentro de uma arte que é limitado.
Eu trabalhei com contabilidade por muito tempo mas eu me via limitado em questões porque eu nunca conseguia ajudar os meus, trabalhando com a contabilidade, porque exige uma formação, é no que eu sou formado, mas eu não conseguia salvar a vida dos meus amigos, a maioria dos meus amigos morreram por conta do tráfico de drogas, e eu escolhi a moda para poder revolucionar esse cenário e acreditar que poderia dar certo.
Então par mim hoje é uma perspectiva muito diferente porque eu consegui trazer realmente esperança pra meu povo, consegui realmente fazer as coisas acontecerem, e ainda assim tô conseguindo capacutar os meus para que a gente consiga chegar em bando, em coletivo em determinados espaços e fazer essa revolução, esse aquilombamento potente diante de tudo que acreditamos.
*Ainda sobre a questão acima, qual a importância destes costumes para o comportamento cultural no geral?
Eu acho que o social a a cultura, tem o poder muito forte de revolucionar, quando a gente pensa nas crianças a gente pensa num futuro melhor, eu acho que quando as crianças acessam a educação e o cultural na fase de sua infância elas já crescem um ser humano melhor, elas já pensam em algo que pra frente consequentemente vai trazer melhoras para nosso mundo, melhoras para nosso país, então acho que isso é uma das maiores virtudes que tem a arte, diante do nosso país, fazer com que as pessoas que não tem perspectiva acreditar no seu futuro e mudar, mudar mudar e mudar!
*Fora dos closes quem é Carlos Cruz, o que ele curte, o que faz e onde habita?
Carlos Cruz é um cara simples, que viveu a vida numa comunidade de Salvador, e que foi criado pela sua avó D. Patrícia Maria e seu avô Carlos Cruz, que foi o nome que eu escolhi pra usar na moda e homenagear meu avô, que foi o cara que me fez gigante desde que eu era pequeno.
Eu acredito que dentro das nossas comunidades a gente perde muitas pessoas pela falta de oportunidade, e eu poderia ser um desses caras mortos, se eu não tivesse uma família que foi base pra tudo, mina vó, minhas tias, minha mãe, que sempre me deram direção para que eu pudesse realmente ser um ser humano melhor e para que eu pudesse pensar nesse coletivo que tanto penso hoje.
*Uma meta profissional:
Uma meta profissional eu vou realizar essa semana eu não posso dizer ainda, mas vai ser algo que vai com certeza impactar no meu cenário de trabalho, eu que já fui para diversos países trabalhando como modelo, tenho sonhado com coisas maiores e buscado voos maiores, e eu tenho certeza que consequentemente, coisas gigantescas vão acontecer nesse momento e acho que logo menos vocês estarão sabendo, pra gente soltar uma próxima matéria, e falar um pouco sobre isso.
O insta dele é: @carloscruzmodel
Entrevista simplesmente sensacional realizada pelo meu amigo Rafael que mais uma vez entrega excelência em seus trabalhos (como redator, fotografo, estilista e etc). Ler sobre essa figura que é o Carlos é de suma importância, pois, mostra que pessoas negras de periferia assim como eu ainda podem sonhar e ter uma perspectiva maior de seu futuro (não só na moda), ainda mais se tratando dele que começou no mesmo projeto e no mesmo ponto que eu estou hoje (PJT Models) do meu querido "pai" e professor Sivaldo Tavares. Que essas e outras entrevistas sirvam para mostrar que tudo é possível e que podemos e devemos tomar o lugar que nos é de direito.
ResponderExcluirAssinado: Kiann